terça-feira, 3 de junho de 2014

Evangelii Gaudium

Não à acédia egoísta



81. Quando mais precisamos dum dinamismo missionário que leve sal e luz ao mundo, muitos
leigos temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa apostólica e procuram fugir de qualquer
compromisso que lhes possa roubar o tempo livre. Hoje, por exemplo, tornou-se muito difícil
nas paróquias conseguir catequistas que estejam preparados e perseverem no seu dever por
vários anos. Mas algo parecido acontece com os sacerdotes que se preocupam obsessivamente
com o seu tempo pessoal. Isto, muitas vezes, fica-se a dever a que as pessoas sentem imperiosamente
necessidade de preservar os seus espaços de autonomia, como se uma tarefa de evangelização
fosse um veneno perigoso e não uma resposta alegre ao amor de Deus que nos convoca
para a missão e nos torna completos e fecundos. Alguns resistem a provar até ao fundo o gosto
da missão e acabam mergulhados numa acédia paralisadora.
82. O problema não está sempre no excesso de actividades, mas sobretudo nas actividades mal
vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que impregne a acção e a torne
desejável. Daí que as obrigações cansem mais do que é razoável, e às vezes façam adoecer. Não
se trata duma fadiga feliz, mas tensa, gravosa, desagradável e, em definitivo, não assumida. Esta
acédia pastoral pode ter origens diversas: alguns caem nela por sustentarem projectos irrealizáveis
e não viverem de bom grado o que poderiam razoavelmente fazer; outros, por não aceitarem
a custosa evolução dos processos e querem que tudo caia do Céu; outros, por se apegarem a
alguns projectos ou a sonhos de sucesso cultivados pela sua vaidade; outros, por terem perdido
o contacto real com o povo, numa despersonalização da pastoral que leva a prestar mais atenção
à organização do que às pessoas, acabando assim por se entusiasmarem mais com a “tabela de
marcha” do que com a própria marcha; outros ainda caem na acédia, por não saberem esperar
e quererem dominar o ritmo da vida. A ânsia hodierna de chegar a resultados imediatos faz com
que os agentes pastorais não tolerem facilmente tudo o que signifique alguma contradição, um
aparente fracasso, uma crítica, uma cruz.

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