segunda-feira, 2 de junho de 2014

Evangelii Gaudium



Sim ao desafio duma espiritualidade missionária

78. Hoje nota-se em muitos agentes pastorais, mesmo pessoas consagradas, uma preocupação
exacerbada pelos espaços pessoais de autonomia e relaxamento, que leva a viver os próprios deveres
como mero apêndice da vida, como se não fizessem parte da própria identidade. Ao mesmo
tempo, a vida espiritual confunde-se com alguns momentos religiosos que proporcionam algum
alívio, mas não alimentam o encontro com os outros, o compromisso no mundo, a paixão pela
evangelização. Assim, é possível notar em muitos agentes evangelizadores – não obstante rezem
– uma acentuação do individualismo, uma crise de identidade e um declínio do fervor. São três
males que se alimentam entre si.
79. A cultura mediática e alguns ambientes intelectuais transmitem, às vezes, uma acentuada desconfiança
quanto à mensagem da Igreja, e um certo desencanto. Em consequência disso, embora rezando,
muitos agentes pastorais desenvolvem uma espécie de complexo de inferioridade que os leva a relativizar
ou esconder a sua identidade cristã e as suas convicções. Gera-se então um círculo vicioso, porque
assim não se sentem felizes com o que são nem com o que fazem, não se sentem identificados com a
missão evangelizadora, e isto debilita a entrega. Acabam assim por sufocar a alegria da missão numa
espécie de obsessão por serem como todos os outros e terem o que possuem os demais. Deste modo,
a tarefa da evangelização torna-se forçada e dedica-se-lhe pouco esforço e um tempo muito limitado.
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80. Nos agentes pastorais, independentemente do estilo espiritual ou da linha de pensamento
que possam ter, desenvolve-se um relativismo ainda mais perigoso que o doutrinal. Tem a ver
com as opções mais profundas e sinceras que determinam uma forma de vida concreta. Este
relativismo prático é agir como se Deus não existisse, decidir como se os pobres não existissem,
sonhar como se os outros não existissem, trabalhar como se aqueles que não receberam o anúncio
não existissem. É impressionante como até aqueles que aparentemente dispõem de sólidas
convicções doutrinais e espirituais acabam, muitas vezes, por cair num estilo de vida que os leva
a agarrarem-se a seguranças económicas ou a espaços de poder e de glória humana que se buscam
por qualquer meio, em vez de dar a vida pelos outros na missão. Não nos deixemos roubar
o entusiasmo missionário!

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