domingo, 18 de maio de 2014

Evangelii Gaudium

5. Uma mãe de coração aberto

46. A Igreja “em saída” é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direcção aos outros para
chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direcção nem sentido. Muitas
vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar
às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o
pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar
sem dificuldade.
47. A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura
é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma
moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta
fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de
alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas
dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata
daquele sacramento que é a “porta”: o Baptismo. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da
vida sacramental, não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento
para os fracos. Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a
considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não
como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos
com a sua vida fadigosa.
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48. Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem excepção.
Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito
clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles
que muitas vezes são desprezados e esquecidos, “àqueles que não têm com que te retribuir”
(Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima.
Hoje e sempre, “os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho”, e a evangelização
dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios
que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!
49. Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja,
aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada,
ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento
e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser
o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa
nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos
que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade
de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero
que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa protecção, nas
normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos,
enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: “Dai-lhes vós mesmos
de comer” (Mc 6, 37).

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