terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O QUE FALAM DO PAPA

Líder global: Francisco lançou a 'Revolução da Ternura' O tom do pontificado de Bergoglio começou a ser definido no momento inaugural. Por Fernando Calado Rodrigues A Igreja respira com um renovado vigor. O seu coração é irrigado com sangue que tem as suas origens no Velho Continente, mas bate ao ritmo do Novo Mundo. Para muitos, o advento do Papa Francisco provocou uma nova primavera do Espírito, semelhante àquela introduzida pelo Segundo Concílio do Vaticano há mais de meio século. Quando, no Vaticano, o cardeal Jorge Mario Bergoglio assomou à varanda da Basílica de S. Pedro apenas com a batina branca, despojado das pontifícias vestes vermelhas, captou imediatamente a atenção dos meios de comunicação pela simplicidade das suas palavras e pela autenticidade das suas atitudes. Graças aos seus gestos surpreendentes, e ao seu discurso atrativo e contundente, fez com que a Igreja deixasse de ser notícia apenas pelos escândalos que acontecem no seu seio e que marcaram o final do pontificado de Bento XVI. Bergoglio rapidamente se impôs como líder global num mundo desacreditado dos líderes políticos. Não o fez, contudo, lançando para a sombra o tempo em que o cardeal Joseph Aloisius Ratzinger esteve ao leme da barca de Pedro. Mas atribuindo um impacto ainda mais relevante ao gesto inédito da sua resignação.   Tem sido extraordinário acompanhar a atividade e o magistério deste homem que está a marcar de forma indelével a fisionomia da Igreja, neste dealbar do seu Terceiro Milénio, bem como recuperar o contributo dos seus antecessores. Assiste-se àquilo que alguns consideram, mais do que uma época de mudanças, uma mudança de época. RUMO ÀS PERIFERIAS O cardeal Bergoglio assumiu o nome de Francisco após a sua eleição para sucessor de Pedro. Foi precisamente a escolha do nome que deu o primeiro sinal de uma das ideias-chave que o novo Papa quer impor à Igreja: o desprendimento e a preocupação com os mais pobres. Desde o início, procurou traduzir as suas palavras com gestos concretos, como foi a escolha da Casa de Santa Marta para sua habitação. A preocupação com os mais pobres levou-o a criticar de forma contundente o sistema capitalista. Não utilizou uma argumentação elaborada e um discurso devidamente fundamentado, como o seu antecessor, mas preferiu fazê-lo de forma mais eficaz, com frases simples e incisivas, de que é um bom exemplo: "Esta economia mata." Traduziu a sua atenção aos mais desfavorecidos com a introdução do conceito de "periferias existenciais e geográficas", as quais exigem da Igreja um dinamismo para sair de si e ir ao encontro dos que vivem afastados. Uma vez mais, acompanhou o seu discurso com ações concretas, demonstrando esse dinamismo que ele quer para toda a Igreja. A sua primeira visita fora de Roma foi à ilha de Lampedusa. A seguir, escolheu alguns dos seus primeiros cardeais nas periferias da cristandade. A REFORMA DA IGREJA O Papa Francisco afrontou os principais problemas identificados pelos cardeais nas sessões preparatórias do conclave. Nomeou nove para fazerem a reforma da Cúria e do IOR, o dito banco do Vaticano. Tem sido inflexível e determinado na abordagem à pedofilia no seio da Igreja e na falta de despojamento dos eclesiásticos. Já suspendeu vários bispos por esses motivos – e um deles chegou mesmo a ser preso. Tem, também, procurado renovar a fisionomia da Cúria e de algumas conferências episcopais, como a espanhola ou a americana. Anuncia-se a fusão de diversos pontifícios conselhos com a criação de dois novos dicastérios (uma espécie de ministérios da Santa Sé). Um encarregar-se--á das questões em torno dos leigos e da família e outro da Justiça e Caridade. Será uma espécie de ministério dos assuntos sociais. O cardeal hondurenho Oscar Maradiaga, amigo pessoal do Papa e da sua confiança, assumirá este dicastério, deslocando-se para Roma quando se tornar efetiva a reforma da Cúria. Na nomeação de bispos para dioceses como a de Madrid, em Espanha, ou de Boston, nos Estados Unidos, a escolha do Papa Francisco recaiu sobre bispos mais alinhados com a sua forma de pensar e agir, rejeitando outros que se perfilavam para esses cargos. REVOLUÇÃO DA TERNURA A sua coerência e autenticidade, acompanhadas de uma notória assertividade e firmeza política, são as principais razões do seu sucesso mediático. E, mais importante que esse, é o sucesso da revolução que está a lançar no mundo católico, com influências globais. Uma "Revolução da Ternura" que sublinha o acolhimento em detrimento da condenação; que prefere a misericórdia à lei. Uma revolução que está a obrigar a Igreja a reaprender a "gramática da simplicidade". Para que, com a "criatividade do amor", consiga reinventar, hoje, o anúncio de Jesus Cristo. Pode ainda não ter mudado muito, sobretudo do ponto de vista legislativo, como alguns o acusam. Mas já gerou um dinamismo que dificilmente se conseguirá conter. Alguns bem se esforçam por promover uma oposição silenciosa e sub-reptícia ao Papa – e, essa sim, é ainda mais perigosa do que um atentado terrorista. Um atentado terrorista faria dele um mártir das suas convicções e das mudanças que propõe para a Igreja e para o Mundo. Mas esse terrorismo eclesiástico é muito mais perigoso, porque procura descredibilizar e esvaziar a dinâmica reformadora por ele introduzida. O maior êxito, é o que se deseja, para o sucessor de Pedro. Que tanto o terrorismo externo como o interno não consigam calar nem travar o espírito reformador do Papa Francisco. Oxalá ele consiga contagiar os outros – e que o ambiente que já se respira à sua volta se propague a todos os recantos da cristandade. 

Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/domingo/detalhe/lider_global_francisco_lancou_a_revolucao_da_ternura.html


COOREIO DA MANHÃ
JORNALISTA - FERNANDO CALADO RODRIGUES

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