sábado, 18 de outubro de 2014

ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

ESPECIAL SOBRE O SÍNODO

"Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização"

O Sínodo dos Bispos sobre os desafios pastorais da família teve início na manhã de domingo, dia 5 de Outubro com a Eucaristia presidida pelo Papa Francisco na Basílica Vaticana as 10 horas de Roma. Mas já no sábado no final da tarde,às 18 horas na Praça de S. Pedro aconteceu uma Vigília de Oração e Reflexão que abriu caminho a este percurso sinodal. Uma iniciativa da Conferência Episcopal Italiana na qual participarão os Padres Sinodais.
Abaixo algumas informações esclarecedoras sobre o desenvolvimento dos trabalhos sinodais, oferecidas durante um briefing na Sala de Imprensa da Santa Sé, realizado na última sexta feira, dia 3 de Outubro. Liberdade de expressão e respeito por cada posição deverão caracterizar os trabalhos do Sínodo dos Bispos – esta a principal afirmação do Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo que liderou os esclarecimentos aos jornalistas.
Uma novidade deve ser destacada: na abertura dos trabalhos em cada dia haverá o testemunho de um casal. Este testemunho terá a duração de cerca 4 minutos. Entre eles, também a experiência de um matrimónio misto entre um muçulmano e uma católica. Na primeira semana, o debate na Sala seguirá a ordem temática do “Documento de trabalho” preparatório. Por exemplo, a 8 e a 9 de outubro, o debate vai concentrar-se nas situações pastorais difíceis e nos desafios que dizem respeito à abertura das famílias à vida.
Uma grande celebração final e particularmente significativa será a missa conclusiva, no domingo, 19 de outubro, às 9h30min, na Praça S. Pedro, que coincidirá com a beatificação de Paulo VI, o Pontífice que em 1965 instituiu a Assembleia Sinodal. O Papa Francisco proporá em cada dia a oração inicial, com outras intervençoes no início e no final dos trabalhos.
Nova também a “máquina de informação” deste Sínodo, que terá um briefing diário sobre o andamento dos trabalhos, na Sala de Imprensa da Santa Sé, em diversas línguas, com a publicação da lista dos Padres Sinodais que se pronunciaram em cada dia e o início de um serviço Twitter com a hashtag#Synod14. Será também publicado um boletim diário com a síntese das comunicações na Sala do Sínodo.
Dois documentos, em particular, são aguardados com expectativa: a publicação da mensagem conclusiva, no sábado 18 de outubro, e o novo “Relatório do Sínodo” que substitui as clássicas “Proposições finais”. Este relatório será apresentado diretamente ao Papa e será tornado público posteriormente. É a primeira vez que um Sínodo se realiza em duas etapas. De facto, em 2014, será realizada somente a primeira parte de um percurso que se concluirá em 2015, com um Sínodo Geral. (JE/RS)
OS PRONUNCIAMENTOS DO PAPA

Vigília de Oração preparatória para o Sínodo sobre a Família (4 de outubro de 2014)

VIGÍLIA DE ORAÇÃO PREPARATÓRIA PARA
O SÍNODO SOBRE A FAMÍLIA
DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
Praça de São Pedro
Sábado, 4 de Outubro de 2014
Vídeo
Queridas famílias, boa noite!
Desce já a noite sobre a nossa assembleia. É a hora em que de bom grado se regressa a casa para se reunir à mesma mesa na consistência dos afectos, do bem feito e recebido, dos encontros que abrasam o coração e o fazem crescer, vinho bom que antecipa, nos dias do homem, a festa sem ocaso.
Mas é também a hora mais pesada para quem se vê cara a cara com a própria solidão, no crepúsculo amargo de sonhos e projectos desfeitos. Quantas pessoas arrastam os seus dias no beco sem saída da resignação, do abandono, se não mesmo do rancor! Em quantas casas falta o vinho da alegria e, consequentemente, o sabor — a própria sabedoria — da vida! Nesta noite, com a nossa oração, fazemo-nos voz de uns e de outros: uma oração por todos.
É significativo como permanece viva, em cada nascido de mulher — mesmo na cultura individualista que perverte e torna efémeros os laços — uma exigência essencial de estabilidade, duma porta aberta, de alguém com quem tecer e partilhar a narração da vida, duma história a que se pertença. A comunhão de vida assumida pelos esposos, a sua abertura ao dom da vida, a defesa recíproca, o encontro e a memória das gerações, o acompanhamento educativo, a transmissão da fé cristã aos filhos... Com tudo isto, a família continua a ser escola incomparável de humanidade, contribuição indispensável para uma sociedade justa e solidária (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium , 66-68). E quanto mais profundas são as suas raízes, tanto mais é possível singrar e chegar longe na vida, sem se extraviar nem se sentir estrangeiro em terra alguma. Este horizonte ajuda-nos a perceber a importância da assembleia sinodal que tem início amanhã.
O próprio convenire in unum à volta do Bispo de Roma já é evento de graça, no qual a colegialidade episcopal se manifesta num caminho de discernimento espiritual e pastoral. Para individuar aquilo que o Senhor pede hoje à sua Igreja, devemos prestar ouvidos às pulsações deste tempo e sentir o «odor» dos homens de hoje, até ficar impregnadosb das suas alegrias e esperanças, das suas tristezas e angústias (cf. Gaudium et spes , 1). Então saberemos propor, com credibilidade, o evangelho, a boa nova sobre a família.
Conhecemos realmente como há, no Evangelho, uma força e uma ternura capazes de vencer aquilo que cria infelicidade e violência. Sim, no Evangelho, há a salvação que cumula as necessidades mais profundas do homem! Desta salvação — obra da misericórdia de Deus e sua graça — somos, como Igreja, sinal e instrumento, sacramento vivo e eficaz (cf. Exort. ap.Evangelii gaudium , 112). Se assim não fosse, o nosso edifício não passaria de um castelo de cartas, e os pastores reduzir-se-iam a clérigos de estado, em cujos lábios o povo procuraria em vão o frescor e o «perfume do Evangelho» ( Ibid ., 39).
Vemos surgir, neste quadro, os conteúdos da nossa oração. Para os padres sinodais, pedimos antes de mais nada, do Espírito Santo, o dom da escuta: escuta de Deus, até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama. A par da escuta, suplicamos a disponibilidade para um confronto sincero, aberto e fraterno, que nos leve a ocupar-nos, com responsabilidade pastoral, das interrogações que esta mudança epocal traz consigo. Deixemos que inundem o nosso coração, sem nunca perdermos a paz, mas com a serena confiança de que o Senhor não deixará, a seu tempo, de reconduzir à unidade. Porventura não nos fala a história da Igreja — como sabemos — de tantas situações análogas que os nossos pais souberam superar com obstinada paciência e criatividade?
O segredo está num olhar — e é o terceiro dom que imploramos com a nossa oração. É que, se verdadeiramente pretendemos verificar o nosso passo no terreno dos desafios contemporâneos, a condição decisiva é manter o olhar fixo em Jesus Cristo, deter-se na contemplação e adoração do seu rosto. Se assumirmos o seu modo de pensar, viver e relacionar-se, não teremos dificuldade em traduzir o trabalho sinodal em indicações e percursos para a pastoral da pessoa e da família. Na verdade, todas as vezes que voltamos à fonte da experiência cristã, abrem-se estradas novas e possibilidades inimagináveis. Assim no-lo deixa intuir a indicação evangélica: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5). São palavras que contêm o testamento espiritual de Maria, «amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida» (Exort. ap.Evangelii gaudium , 286). Façamo-las nossas!
Então as três coisas — a nossa escuta e o nosso confronto sobre a família, amada com o olhar de Cristo — tornar-se-ão uma ocasião providencial para renovar — a exemplo de São Francisco — a Igreja e a sociedade. Com a alegria do Evangelho, reencontraremos o passo duma Igreja reconciliada e misericordiosa, pobre e amiga dos pobres; uma Igreja capaz de «vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium , 8).
Que o Vento do Pentecostes sopre sobre os trabalhos sinodais, sobre a Igreja, sobre a humanidade inteira; desate os nós que impedem as pessoas de se encontrarem, sare as feridas que sangram tanto, reacenda a esperança; há tanta gente sem esperança! Conceda-nos aquela caridade criativa que consinta amar como Jesus amou. E o nosso anúncio reencontrará a vitalidade e o dinamismo dos primeiros missionários do Evangelho.

Santa Missa na abertura do Sínodo Extraordinário sobre a Família (5 de outubro de 2014)

SANTA MISSA NA ABERTURA
DO SÍNODO EXTRAORDINÁRIO SOBRE A FAMÍLIA
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Domingo, 5 de Outubro de 2014
Vídeo
Nas leituras de hoje, é usada a imagem da vinha do Senhor tanto pelo profeta Isaías como pelo Evangelho. A vinha do Senhor é o seu «sonho», o projecto que Ele cultiva com todo o seu amor, como um agricultor cuida do seu vinhedo. A videira é uma planta que requer muitos cuidados!
O «sonho» de Deus é o seu povo: Ele plantou-o e cultiva-o, com amor paciente e fiel, para se tornar um povo santo, um povo que produza muitos e bons frutos de justiça.
Mas, tanto na antiga profecia como na parábola de Jesus, o sonho de Deus fica frustrado. Isaías diz que a vinha, tão amada e cuidada, «produziu agraços» (5, 2.4), enquanto Deus «esperava a justiça, e eis que só há injustiça; esperava a rectidão, e eis que só há lamentações» (5, 7). Por sua vez, no Evangelho, são os agricultores que arruínam o projecto do Senhor: não trabalham para o Senhor, mas só pensam nos seus interesses.
Através da sua parábola, Jesus dirige-se aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, isto é, aos «sábios», à classe dirigente. Foi a eles, de modo particular, que Deus confiou o seu «sonho», isto é, o seu povo, para que o cultivem, cuidem dele e o guardem dos animais selvagens. Esta é a tarefa dos líderes do povo: cultivar a vinha com liberdade, criatividade e diligência.
Mas Jesus diz que aqueles agricultores se apoderaram da vinha; pela sua ganância e soberba, querem fazer dela aquilo que lhes apetece e, assim, tiram a Deus a possibilidade de realizar o seu sonho a respeito do povo que Ele escolheu.
A tentação da ganância está sempre presente. Encontramo-la também na grande profecia de Ezequiel sobre os pastores (cf. cap. 34), comentada por Santo Agostinho num famoso Discurso que lemos, ainda nestes dias, na Liturgia das Horas. Ganância de dinheiro e de poder. E, para saciar esta ganância, os maus pastores carregam sobre os ombros do povo pesos insuportáveis, que eles próprios não põem nem um dedo para os deslocar (cf. Mt 23, 4).
Também nós somos chamados a trabalhar para a vinha do Senhor, no Sínodo dos Bispos. As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projecto de amor a respeito do seu povo. Neste caso, o Senhor pede-nos para cuidarmos da família, que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio de amor que ele tem para a humanidade.
Nós somos todos pecadores e também nos pode vir a tentação de «nos apoderarmos» da vinha, por causa da ganância que nunca falta em nós, seres humanos. O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns dos seus servidores. Podemos «frustrar» o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo. O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para trabalharmos generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade.
Irmãos sinodais, para cultivar e guardar bem a vinha, é preciso que os nossos corações e as nossas mentes sejam guardados em Cristo Jesus pela «paz de Deus que ultrapassa toda a inteligência» (Flp 4, 7). Assim, os nossos pensamentos e os nossos projectos estarão de acordo com o sonho de Deus: formar para Si um povo santo que Lhe pertença e produza os frutos do Reino de Deus (cf. Mt 21, 43).

Saudação aos Padres Sinodais durante a I Congregação da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos (6 de outubro de 2014)

SAUDAÇÃO DO PAPA FRANCISCO
AOS PADRES SINODAIS DURANTE A 1º CONGREGAÇÃO GERAL DA III ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA
DO SÍNODO DOS BISPOS
Segunda-feira, 6 de Outubro de 2014
Eminências, Beatitudes, Excelências irmãos e irmãs
Dou-vos as minhas cordiais boas-vindas a este encontro, enquanto vos agradeço de coração a vossa presença e assistência solícitas e qualificadas.
Em vosso nome, gostaria de manifestar o meu profundo e sentido agradecimento a todas as pessoas que trabalharam com dedicação, paciência e competência, durante longos meses, lendo, avaliando e elaborando os temas, os textos e os trabalhos desta Assembleia Geral Extraordinária.
Permiti que eu dirija um obrigado particular e cordial ao Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo, a D. Fabio Fabene, Subsecretário, e juntamente com eles a todos os relatores, escritores, consultores e tradutores, bem como a todos os funcionários da secretaria do Sínodo dos Bispos. Eles trabalharam incansavelmente, e continuam a labutar, pelo bom êxito do presente Sínodo: verdadeiramente, muito obrigado, e que o Senhor vos recompense!
Agradeço igualmente ao Conselho pós-sinodal, ao relator e ao Secretário-Geral; às Conferências Episcopais, que trabalharam realmente muito e, juntamente com eles, agradeço também aos três Presidentes delegados...
Mas estou grato inclusive a vós, estimados Cardeais, Patriarcas, Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas, pela vossa presença e pela vossa participação, que enriquecem os trabalhos e o espírito de colegialidade e de sinodalidade para o bem da Igreja e das famílias! Também este espírito de sinodalidade, desejei que estivesse presente na eleição do relator, do Secretário-Geral e dos Presidentes delegados. Os primeiros dois foram eleitos directamente pelo Conselho pós-sinodal, também ele eleito pelos participantes no último Sínodo. No entanto, dado que os Presidentes delegados devem ser escolhidos pelo Papa, eu solicitei ao próprio Conselho pós-sinodal que propusesse alguns nomes, e nomeei aqueles que o Conselho me propôs.
Vós transmitis a voz das Igrejas particulares, reunidas a nível de Igrejas locais mediante as Conferências Episcopais. A Igreja universal e as Igrejas particulares são de instituição divina; as Igrejas locais assim entendidas são de instituição humana. Esta é a voz que transmitireis emsinodalidade. Trata-se de uma grande responsabilidade: anunciar as realidades e as problemáticas das Igrejas, para as ajudar a percorrer aquele caminho que é o Evangelho da família.
Uma condição geral de base é a seguinte: falar claro. Que ninguém diga: «Isto não se pode dizer; pensará de mim assim ou assim...». É necessário dizer tudo o que se sente com parrésia. Depois do ultimo Consistório (Fevereiro de 2014), no qual se falou sobre a família, um Cardeal escreveu-me dizendo: é uma lástima que alguns Purpurados não tiveram a coragem de dizer certas coisas por respeito ao Papa, talvez julgando que o Papa pensasse de outra maneira. Isto não está bem, isto não é sinodalidade, porque é necessário dizer tudo aquilo que, no Senhor, sentimos que devemos dizer: sem hesitações, sem medo. E, ao mesmo tempo, é preciso ouvir com humildade e aceitar de coração aberto aquilo que os irmãos dizem. A sinodalidade exerce-se com estas duas atitudes.
É por isso que vos peço, por favor, estas atitudes de irmãos no Senhor: falar com parrésia e ouvir com humildade. E fazei-o com grande tranquilidade e paz, porque o Sínodo se realiza sempre cum Petro et sub Petro, e a presença do Papa é garantia para todos e guardião da fé.
Estimados irmãos, colaboremos todos para que se afirme com clareza a dinâmica dasinodalidade. Obrigado!

Sínodo: os desafios pastorais da família no contexto da evangelização – uma síntese dos trabalhos

2014-10-18 Rádio Vaticana

O Sínodo Extraodinário dos Bispos sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização, começou no domingo dia 5 de outubro com uma Solene Eucaristia na Basílica de S. Pedro. Na sua homilia o Papa Francisco, referindo-se ao Sínodo, deixou claro o que deve ser uma assembleia sinodal:
“As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de amor a respeito do seu povo. “
Na segunda-feira, dia 6 de outubro, no início da primeira assembleia do Sínodo sobre a família, o Papa Francisco falou aos padres sinodais e considerou ser este encontro uma grande responsabilidade que nos obriga a “falar claro” “com frontalidade evangélica” e o “coração aberto”.
Por isso, peço-vos, por favor, estas duas atitudes de irmãos no Senhor: falar com parresia – clareza e coragem evangélicas – e escutar com humildade. Fazei-o com muita tranquilidade e paz, porque o Sínodo decorre sempre cum Petro et sub Petro e a presença do Pai é garantia para todos e custódia da fé. Caros irmãos, colaboremos todos para que se afirme com clareza a dinâmica da sinodalidade.

Após a intervenção do Santo Padre coube ao relator-geral do Sínodo, o Cardeal Peter Erdo, a missão de descrever o panorama de início do Sínodo tendo como base o Instrumento de Trabalho apresentado. E forneceu, desde logo, o método do trabalho sinodal:
“Devemos, pois, recordar que a assembleia extraordinária de 2014 é a primeira etapa de um caminho eclesial que desaguará na assembleia ordinária de 2015. Daí deriva que a linguagem e as indicações devem ser tais que promovam o aprofundamento teológico mais nobre, para escutar com a máxima atenção a mensagem do Senhor, encorajando, ao mesmo tempo, a participação e a escuta da comunidade dos fieis” – disse o Cardeal.
Segundo o cardeal Erdo, na família existem situações pastorais difíceis que são “uma verdadeira urgência pastoral”. Logo na primeira congregação da assembleia sinodal houve dezenas de intervenções – como afirmou o Padre Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, em conferência de imprensa repetindo a exigência que muitos bispos fizeram acerca de uma renovação da linguagem do anúncio do Evangelho:
“Diversas intervenções têm que ver com a atenção à linguagem que a Igreja deve usar para responder e fazer-se entender. Um outro grande núcleo, à volta do qual rodaram várias intervenções é aquele do respeito da gradualidade: ou seja, o facto de que há um caminho, através do qual os crentes cristãos se aproximam àquele que é o ideal da família cristã e do matrimónio cristão na apresentação do Magistério da Igreja.”
O Padre Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, no seu briefing diário partilhou com os jornalistas uma imagem verbal que foi apresentada no terceiro dia de trabalhos:
“ Falou-se da Luz que a Igreja traz ao mundo … não tanto como um farol mas como uma vela acesa, uma tocha que acompanha o povo em caminho”
A fé não é aderir a conteúdos – sublinhou o Padre Lombardi – mas uma adesão, um encontro com Cristo.
“A crise das famílias na Igreja e também a crise das famílias cristãs na sociedade está muito ligada à crise geral da fé neste tempo. Foi notado como é preciso estar atentos em recordar que a fé não é aderir só a conteúdos, a ensinamentos, mas a fé é, antes de mais, uma adesão pessoal a Cristo, uma escolha por Cristo, um encontro com Cristo, uma aliança com Ele.”
Duas linhas de reflexão emergiram dos debates acerca dos divorciados recasados. Uma acentua a doutrina a outra a aproximação pastoral através da misericórdia. Segundo o padre Lombardi foram mesmo apresentadas propostas concretas de organização dos serviços diocesanos para tratar este assunto:
“Houve também propostas bastante concretas de organização de gabinetes diocesanos que enfrentem a temática sob a direção do bispo. Ao mesmo tempo, também sobre esta temática insiste-se sobre a atenção às exigências da verdade e da justiça, para não chegar a uma espécie de divórcio católico e, portanto, inserir e reconhecer a importância também do processo e dos procedimentos canónicos, numa pastoral conjunta de verdadeira atenção ao bem do povo de Deus e das pessoas.”
Dos testemunhos apresentados, destaque para aquele que falou em português: o casal Artur e Ermelinda, unidos em matrimónio há 41 anos e coordenadores das Equipas de Nossa Senhora no Brasil.Este casal brasileiro falou da sexualidade do casal afirmando que é preciso saber cultivar o desejo e até mesmo um erotismo sadio. Segundo eles o controlo da natalidade através dos métodos naturais teoricamente é bom; porém, na cultura atual parece a este casal carecer de praticidade.
O casal Artur e Ermelinda concluiu o seu testemunho considerando que é importante responder “às exigências do mundo atual” sem “ferir o essencial da moral católica”.Sobre os divorciados recasados, o padre Federico Lombardi, informou os jornalistas sobre um modelo apresentado por um padre sinodal de novos percursos de acolhimento. Intimamente ligado a este argumento está o aspeto sacramental ligado à possibilidade de aproximação à Eucaristia. Sobre este ponto o padre Lombardi recordou uma observação muito importante:
“É aquela que aconteceu com aquilo que tinha feito S. Pio X no seu tempo admitindo as crianças à Eucaristia: tinha sido considerado extremamente revolucionário, extremamente inovador no seu tempo. Portanto, existem também exemplos de coragem da parte de um Papa – mesmo sendo uma situação muito diferente daquela em que estamos – no refletir ou no introduzir novidades no que diz respeito às condições de acesso à Eucaristia.”
A segunda semana do Sínodo sobre a família começou com a “Relatio post disceptationem” – o Cardeal Peter Erdo, relator-geral do Sínodo, apresentou em 58 pontos os principais contributos propostos nas reflexões da primeira semana. Ideia principal a reter a necessidade de fazer escolhas pastorais corajosas na ação da Igreja junto das famílias, nomeadamente naquelas onde aconteceram separações ou mesmo divórcios. O documento desenvolve-se em três ideias-chave: escutar o contexto socio-cultural em que vivem as famílias hoje; olhar para Cristo e para o seu Evangelho da família e confrontar-se sobre as prospetivas pastorais a iniciar.
“ Torna-se necessário um discernimento espiritual, no que diz respeito às convivências, aos matrimónios civis e aos divorciados recasados, compete à Igreja reconhecer aquelas sementes do Verbo espalhadas para além dos seus confins visíveis e sacramentais. (...) A Igreja dirige-se com respeito àqueles que participam na sua vida em modo incompleto e imperfeito, apreciando mais os valores positivos que conservam do que os limites e as faltas.”
“Evangelizar é responsabilidade partilhada por todo o povo de Deus, cada uma segundo o próprio ministério e carisma. Sem o testemunho alegre dos cônjuges e das famílias, o anúncio, mesmo que correto, arrisca-se a ser incompreendido ou de se afogar no mar de palavras que caracteriza a nossa sociedade. As famílias católicas são chamadas a ser elas próprias os sujeitos ativos de toda a pastoral familiar.”
Após a primeira semana do Sínodo os trabalhos passaram para um ritmo de pequenos grupos, os chamados “círculos menores” cujos relatórios foram apresentados na quinta-feira dia 16 de outubro em Assembleia Geral com sugestões concretas relativas ao texto do relatório após o debate.
Uma das sugestões é a de ser dado maior realce à mensagem positiva do Evangelho da família, sem olhar apenas para as preocupações das famílias em crise. Outro ponto diz que é necessário dar maior atenção à presença de idosos no interior dos núcleos familiares e às famílias que vivem em condições de extrema pobreza. É também sublinhado o papel essencial das famílias na evangelização e na transmissão da fé.Em relação à aproximação dos divorciados recasados ao sacramento da Eucaristia foram expressos dois tipos de reflexão: de um lado quem sugere que a doutrina não seja modificada, do outro lado quem sugere que se abra a possibilidade de comunhão numa ótica de compaixão e misericórdia em determinadas condições.
Os “círculos menores” aconselharam ainda uma reflexão mais ampla sobre a figura de Maria e da Sagrada Família, propondo-a melhor como modelo de referência para todos os núcleos familiares. Entretanto, em conferência de imprensa o cardeal austríaco D. Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, salientou que o Sínodo dos Bispos sobre a família tem procurado “acompanhar” a história das pessoas no momento atual, seguindo as indicações do Papa Francisco:
“Penso que, para além de tantas questões morais, devemos ver o papel positivo, fundamentalmente positivo da família. Penso que o Papa nos tenha convidado a ver o tema da família não para ver tudo o que não funciona na família (…) mas para mostrar antes de mais a beleza e a necessidade vital da família. Por isso convidou-nos a ter um olhar atento à realidade.”
O cardeal Schönborn afirmou que neste Sínodo havia dois ritmos: aqueles que dizem para termos atenção com a doutrina e os que dizem: não tenhais medo:
“Se alguns padres do Sínodo dizem: “Atenção, não podemos esquecer a doutrina”; do outro lado existe a necessidade do acompanhamento de tantas situações das quais o Papa fala de hospital de campanha. Acontece muitas vezes que numa família a mãe diga: ‘É demasiado perigoso’ e que o pai diga: ‘Não, não tenhas medo’. Estamos numa grande família. Assim uns dizem: ‘Atenção! Têm razão, é perigoso!’; e os outros dizem: ‘Não tenhais medo!’. “
O Sínodo dos Bispos sobre a família tem encontro marcado para o próximo mês de outubro de 2015. Até lá continuarão nas dioceses as reflexões, os aprofundamentos e a participação das famílias e dos fiéis sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização. (RS)

Para um caminho partilhado -A assembleia extraordinária do sínodo rumo à conclusão

2014-10-18 L’Osservatore Romano
Aos «desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização», objecto da reflexão da assembleia extraordinária do Sínodo dos bispos, é dedicado o nuntius, a breve mensagem que os padres enviaram às famílias de todo o mundo, e em particular às famílias cristãs, na conclusão das duas semanas de trabalho. São palavras de «admiração e gratidão pelo testemunho diário» das famílias e sintetizam os temas apresentados na mesa do debate da assembleia, a análise das dificuldades que a vida familiar experimenta na sociedade contemporânea e os possíveis âmbitos de acção pastoral para dar, juntos, respostas concretas e para evidenciar os elementos positivos que a família pode anunciar ao mundo inteiro. Os votos são os de um caminho partilhado, e colocado sob a protecção da família de Nazaré, rumo ao próximo Sínodo programado para Outubro de 2015.
O texto, lido na sala pelo cardeal Gianfranco Ravasi, presidente da comissão encarregada de o redigir, foi votado com a maioria absoluta pelos padres sinodais na manhã de sábado 18 de Outubro. Na sala, na presença do Papa Francisco, estavam no momento da votação 183 padres: de 174 que expressaram o seu parecer, os «placet» foram 158.
Nem todas as numerosas propostas – explicou o purpurado agradecendo aos padres sinodais a participação e o espírito colaborativo demonstrados – puderam encontrar plena expressão na mensagem, que tem como característica a brevidade. Algumas foi possível mencioná-las só pela temática mas não de modo extenso e nos pormenores. As propostas, garantiu o cardeal Ravasi, puderam contudo encontrar maior acolhimento na redacção mais extensa e pormenorizada da relatio finale.
Precisamente a leitura da relatio abriu esta manhã os trabalhos da assembleia. Depois da oração da hora terça e da breve meditação do arcebispo coadjutor de Thành-Hô Chí Minh, D. Paul Bùi Van Doc, sobre o trecho da Carta aos Romanos no qual são Paulo afirma «Não me envergonho do Evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê» (1, 16), três relatores encarregaram-se de dar a conhecer o texto que é o resultado do trabalho da comissão encarregada: na ordem falaram o cardeal Péter Erdo, o arcebispo Bruno Forte e o cardeal Raymundo Damasceno Assis. O documento foi em seguida entregue a todos os padres sinodais para uma leitura pessoal aprofundada e uma reflexão que precederá a votação desta tarde.
A relatio – explicou o secretário-geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri – será votada em cada um dos seus pontos segundo o método placet – non placet. Quando for aprovado, o texto definitivo será entregue ao Papa Francisco que decidirá se o publicar ou não.
Sempre na presença do Papa, na tarde de sexta-feira 17 de Outubro tivera lugar a décima terceira congregação geral. Os 178 padres sinodais que intervieram ouviram a leitura do esboço do nuntius por parte do cardeal Ravasi. O purpurado ilustrou também as principais características da mensagem. No final, teve lugar o debate livre, durante o qual tomaram a palavra 55 padres sinodais indicando variações e integrações a serem feitas à mensagem.
O cardeal Baldisseri informou também que o Papa Francisco ofereceu aos participantes duas dádivas, que foram entregues na manhã de sábado: trata-se da medalha oficial do segundo ano de pontificado, na edição especial para o Sínodo dos bispos, que tem a inscrição Familia Christiana Ecclesia domestica, e do livro Paolo VI. Una biografia del Pontefice, publicado pelo Instituto Paulo VI de Brescia por ocasião da beatificação do Papa Montini. No volume está a dedicatória do Papa Francisco a cada destinatário da prenda.

Mensagem final do Sínodo é publicada

2014-10-18 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) – Os Padres Sinodais aprovaram, no decorrer da 14ª Congregação Geral na manhã deste sábado, a mensagem final da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”. O documento conclusivo do Sínodo - Relatio Synodi - será divulgado posteriormente enquanto o documento final será provavelmente publicado na forma de uma Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Francisco, em 2015, após o Sínodo Ordinário.
Abaixo, a íntegra da mensagem:
Nós, Padres Sinodais reunidos em Roma junto ao Santo Padre na Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, nos dirigimos a todas as famílias dos diversos continentes e, em particular, àquelas que seguem Cristo Caminho, Verdade e Vida. Manifestamos a nossa admiração e gratidão pelo testemunho cotidiano que vocês oferecem a nós e ao mundo com a sua fidelidade, fé, esperança e amor.
Também nós, pastores da Igreja, nascemos e crescemos em uma família com as mais diversas histórias e acontecimentos. Como sacerdotes e bispos, encontramos e vivemos ao lado de famílias que nos narraram em palavras e nos mostraram em atos uma longa série de esplendores mas também de cansaços.
A própria preparação desta assembleia sinodal, a partir das respostas ao questionário enviado às Igrejas do mundo inteiro, nos permitiu escutar a voz de tantas experiências familiares. O nosso diálogo nos dias do Sínodo nos enriqueceu reciprocamente, ajudando-nos a olhar toda a realidade viva e complexa em que as famílias vivem. A vocês, apresentamos as palavras de Cristo: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Como costumava fazer durante os seus percursos ao longo das estradas da Terra Santa, entrando nas casas dos povoados, Jesus continua a passar também hoje pelos caminhos das nossas cidades. Nas vossas casas se experimentam luzes e sombras, desafios exaltantes mas, às vezes, também provações dramáticas. A escuridão se faz ainda mais densa até se tornar trevas, quando se insinuam no coração da família o mal e o pecado.
Existe, antes de tudo, os grandes desafios da fidelidade no amor conjugal, do enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do stress, de um alvoroço que ignora a reflexão, que também marcam a vida familiar. Se assiste, assim, a não poucas crises matrimoniais enfrentadas, frequentemente, em modo apressado e sem a coragem da paciência, da verificação, do perdão recíproco, da reconciliação e também do sacrifício. Os fracassos dão, assim, origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimônios, criando situações familiares complexas e problemáticas para a escolha cristã.
Entre estes desafios queremos evocar também o cansaço da própria existência. Pensemos ao sofrimento que pode aparecer em um filho portador de deficiência, em uma doença grave, na degeneração neurológica da velhice, na morte de uma pessoa querida. É admirável a fidelidade generosa de muitas famílias que vivem estas provações com coragem, fé e amor, considerando-as não como alguma coisa que é arrancada ou infligida, mas como alguma coisa que é doada a eles e que eles doam, vendo Cristo sofredor naquelas carnes doentes.
Pensemos às dificuldades econômicas causadas por sistemas perversos, pelo “fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano” (Evangelii Gaudium 55), que humilha a dignidade das pessoas. Pensemos ao pai ou à mãe desempregados, impotentes diante das necessidades também primárias de suas famílias, e aos jovens que se encontram diante de dias vazios e sem expectativas, e que podem tornar-se presa dos desvios na droga e na criminalidade.
Pensemos também na multidão das famílias pobres, àquelas que se agarram em um barco para atingir uma meta de sobrevivência, às famílias refugiadas que sem esperança migram nos desertos, àquelas perseguidas simplesmente pela sua fé e pelos seus valores espirituais e humanos, àquelas atingidas pela brutalidade das guerras e das opressões. Pensemos também às mulheres que sofrem violência e são submetidas à exploração, ao tráfico de pessoas, às crianças e jovens vítimas de abusos até mesmo por parte daqueles que deveriam protegê-las e fazê-las crescer na confiança e aos membros de tantas famílias humilhadas e em dificuldade. “A cultura do bem-estar anestesia-nos e (...) todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma” (Evangelii Gaudium54). Fazemos apelo aos governos e às organizações internacionais para promoverem os direitos da família para o bem comum.
Cristo quis que a sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta na acolhida, sem excluir ninguém. Somos, por isso, agradecidos aos pastores, fiéis e comunidades prontos a acompanhar e a assumir as dilacerações interiores e sociais dos casais e das famílias.
Existe, contudo, também a luz que de noite resplandece atrás das janelas nas casas das cidades, nas modestas residências de periferia ou nos povoados e até mesmos nas cabanas: ela brilha e aquece os corpos e almas. Esta luz, na vida nupcial dos cônjuges, se acende com o encontro: é um dom, uma graça que se expressa – como diz o Livro do Gênesis (2,18) – quando os dois vultos estão um diante o outro, em uma “ajuda correspondente”, isto é, igual e recíproca. O amor do homem e da mulher nos ensina que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo. É isto que manifesta em modo sugestivo a mulher do Cântico dos Cânticos: “O meu amado é para mim e eu sou sua...eu sou do meu amado e meu amado é meu”, (Cnt 2,16; 6,3).
Para que este encontro seja autêntico, o itinerário inicia com o noivado, tempo de espera e de preparação. Realiza-se em plenitude no Sacramento onde Deus coloca o seu selo, a sua presença e a sua graça. Este caminho conhece também a sexualidade, a ternura, e a beleza, que perduram também além do vigor e do frescor juvenil. O amor tende pela sua natureza ser para sempre, até dar a vida pela pessoa que se ama (cf. João 15,13). Nesta luz, o amor conjugal único e indissolúvel persiste, apesar das tantas dificuldades do limite humano; é um dos milagres mais belos, embora seja também o mais comum.
Este amor se difunde por meio da fecundidade e do ‘gerativismo’, que não é somente procriação, mas também dom da vida divina no Batismo, educação e catequese dos filhos. É também capacidade de oferecer vida, afeto, valores, uma experiência possível também a quem não pode gerar. As famílias que vivem esta aventura luminosa tornam-se um testemunho para todos, em particular para os jovens.
Durante este caminho, que às vezes é um percurso instável, com cansaços e caídas, se tem sempre a presença e o acompanhamento de Deus. A família de Deus experimenta isto no afeto e no diálogo entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Depois vive isto ao escutar juntos a Palavra de Deus e na oração comum, um pequeno oásis do espírito a ser criado em qualquer momento a cada dia. Existem, portanto, o empenho cotidiano na educação à fé e à vida boa e bonita do Evangelho, à santidade. Esta tarefa é, frequentemente, partilhada e exercida com grande afeto e dedicação também pelos avôs e avós. Assim, a família se apresenta como autêntica Igreja doméstica, que se alarga à família das famílias que é a comunidade eclesial. Os cônjuges cristãos são, após, chamados a tornarem-se mestres na fé e no amor também para os jovens casais.
O vértice que reúne e sintetiza todos os elos da comunhão com Deus e com o próximo é a Eucaristia dominical quando, com toda a Igreja, a família se senta à mesa com o Senhor. Ele se doa a todos nós, peregrinos na história em direção à meta do encontro último quando “Cristo será tudo em todos” (Col 3,11). Por isto, na primeira etapa do nosso caminho sinodal, refletimos sobre o acompanhamento pastoral e sobre o acesso aos sacramentos pelos divorciados recasados.
Nós, Padres Sinodais, vos pedimos para caminhar conosco em direção ao próximo Sínodo. Em vocês se confirma a presença da família de Jesus, Maria e José na sua modesta casa. Também nós, unindo-nos à Família de Nazaré, elevamos ao Pai de todos a nossa invocação pelas famílias da terra:
Senhor, doa a todas as famílias a presença de esposos fortes e sábios,
que sejam vertente de uma família livre e unida.
Senhor, doa aos pais a possibilidade de ter uma casa onde viver em paz com a família.
Senhor, doa aos filhos a possibilidade de serem signo de confiança e aos jovens a coragem do compromisso estável e fiel.
Senhor, doa a todos a possibilidade de ganhar o pão com as suas próprias mãos, de provar a serenidade do espírito e de manter viva a chama da fé mesmo na escuridão.
Senhor, doa a todos a possibilidade de ver florescer uma Igreja sempre mais fiel e credível, uma cidade justa e humana, um mundo que ame a verdade, a justiça e a misericórdia.
O Cardeal Raymundo Damasceno de Assis, um dos relatores-presidente do Sínodo, comentou a redação da mensagem final durante uma coletiva de imprensa no final da manhã deste sábado, na Sala de Imprensa da Santa Sé.

Papa no encerramento do Sínodo: "Esta é a Igreja, nossa mãe!"

2014-10-18 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) – No final da tarde deste sábado, 18 de outubro, o Papa Francisco proferiu um discurso por ocasião do encerramento do Sínodo Extraordinário dos Bispos para a Família.
Eis a íntegra do pronunciamento:
“Queridas Eminências, Beatitudes, Excelências, irmãos e irmãs,
Com um coração pleno de reconhecimento e de gratidão, gostaria de agradecer, junto a vós, ao Senhor que nos acompanhou e nos guiou nos dias passados, com a luz do Espírito Santo!
Agradeço de coração Sua Eminência o senhor Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo, Sua Eminência Dom Fabio Fabene, Sub-Secretário, e com eles agradeço o Relator, Sua Eminência Cardeal Peter Erdö que trabalhou tanto, mesmo nos dias de luto familiar, e o Secretário Especial, Sua Eminência Dom Bruno Forte, os três Presidentes delegados, os escritores, os consultores, os tradutores e os anônimos, todos aqueles que trabalharam com verdadeira fidelidade nos bastidores e com total dedicação à Igreja, sem parar: muito obrigado de coração!
Agradeço igualmente a todos vocês, Padres Sinodais, Delegados Fraternos, Ouvintes e Assessores para vossa participação ativa e frutuosa. Levarei vocês na oração, pedindo ao Senhor para recompensar-vos com a abundância da graça dos seus dons!
Eu poderia tranquilamente dizer que – com um espírito de colegialidade e de sinodalidade – vivemos realmente uma experiência de “Sínodo”, um percurso solidário, um “caminho juntos”.
E tendo sido “um caminho” – e como em todo caminho -, houve momentos de corrida veloz, quase correndo contra o tempo prá chegar logo à meta; em outros, momentos de cansaço, quase querendo dizer basta; outros momentos de entusiasmo e de ardor. Houve momentos de profunda consolação, ouvindo os testemunhos dos pastores verdadeiros (cf. João 10 e Cann. 375, 386, 387) que levam no coração sabiamente as alegrias e as lágrimas dos seus fieis. Momentos de consolação e graça e de conforto escutando os testemunhos das famílias que participaram do Sínodo e partilharam conosco a beleza e a alegria de sua vida matrimonial. Um caminho onde o mais forte sentiu o dever de ajudar o mais fraco, onde o mais esperto se apressou em servir os outros, mesmo por meio dos debates. E sendo um caminho de homens, com as consolações houve também outros momentos de desolação, de tensão e de tentações, das quais se poderiam mencionar algumas possibilidades:
- Uma: a tentação de enrijecimento hostil, isto é, de querer fechar-se dentro do escrito (a letra) e não deixar-se surpreender por Deus, pelo Deus das surpresas (o espírito); dentro da lei, dentro da certeza daquilo que conhecemos e não daquilo que devemos ainda aprender e atingir. Desde o tempo de Jesus, é a tentação dos zelosos, dos escrupulosos, dos cuidadosos e dos assim chamados – hoje – “tradicionalistas” e também dos “intelectualistas”.
- A tentação do “bonismo” destrutivo, que em nome de uma misericórdia enganadora, enfaixa as feridas sem antes curá-las e medicá-las; que trata os sintomas contra os pecadores, os fracos, os doentes (cf. Jo 8,7), isto é, transformá-los em “fardos insuportáveis” (Lc 10,27).
- A tentação de descer da cruz, para acontentar as pessoas, e não permanecer ali, para realizar a vontade do Pai; de submeter-se ao espírito mundano ao invés de purificá-lo e submeter-se ao Espírito de Deus.
- A tentação de negligenciar o “depositum fidei”, considerando-se não custódios, mas proprietários ou donos ou, por outro lado, a tentação de negligenciar a realidade utilizando uma língua minuciosa e uma linguagem “alisadora” (polida) para dizer tantas coisas e não dizer nada”. Os chamavam “bizantinismos”, acho, estas coisas...
Queridos irmãos e irmãs, as tentações não devem nem nos assustar nem desconcertar e muito menos desencorajar, porque nenhum discípulo é maior do que seu mestre; portanto se Jesus foi tentado – ate mesmo chamado de Belzebu (cf. MT 12, 24) – os seus discípulos não devem esperar um tratamento melhor.
Pessoalmente, ficaria muito preocupado e triste se não houvesse estas tentações e estas discussões animadas; este movimento dos espíritos, como chamava Santo Inácio (EE, 6), se tudo tivesse sido de acordo ou taciturno em uma falsa e ‘quietista’ paz. Ao contrário, vi e escutei – com alegria e reconhecimento – discursos e pronunciamentos plenos de fé, de zelo pastoral e doutrinal, de sabedoria, de franqueza, de coragem: e de parresia. E senti que foi colocado diante dos próprios olhos o bem da Igreja, das famílias e a “suprema Lex”, a “salus animarum” (cf. Can. 1752). E isto sempre – o dissemos aqui, na Sala – sem colocar nunca em discussão as verdades fundamentais do Sacramento do Matrimônio: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a ‘procriatividade’, ou seja, a abertura à vida (cf. Cann. 1055, 1056 e Gaudium et Spes 48).
E esta é a Igreja, a vinha do Senhor, a Mãe fértil e a Mestra atenciosa, que não tem medo de arregaçar as mangas para derramar o óleo e o vinho nas feridas dos homens (cf. Lc 10, 25-37); que não olha a humanidade de um castelo de vidro para julgar ou classificar as pessoas. Esta é a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e formada por pecadores, necessitados da Sua misericórdia. Esta é a igreja, a verdadeira esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu Esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e beber com as prostitutas (cf. Lc 15). A Igreja que tem as portas escancaradas para receber os necessitados, os arrependidos e não somente os justos ou aqueles que acreditam ser perfeitos! A Igreja que não se envergonha do irmão caído e não faz de conta de não vê-lo, ao contrário, se sente envolvida e quase obrigada a levantá-lo e a encorajá-lo e retomar o caminho e o acompanha para o encontro definitivo, com o seu Esposo, na Jerusalém celeste.
Esta é a Igreja, a nossa mãe! E quando a Igreja, na variedade dos seus carismas, se expressa em comunhão, não pode errar: é a beleza e a força do sensus fidei, daquele sentido sobrenatural da fé, que é doado pelo Espírito Santo para que, juntos, possamos todos entrar no coração do Evangelho e aprender a seguir Jesus na nossa vida, e isto não deve ser visto como motivo de confusão e de mal-estar.
Tantos comentaristas, ou pessoas que falam, imaginaram ver uma Igreja em atrito, onde uma parte está contra a outra, duvidando até mesmo do Espírito Santo, o verdadeiro promotor e garante da unidade e da harmonia na Igreja. O Espírito Santo que ao longo da história sempre conduziu a barca através dos seus Ministros, mesmo quando o mar era contrário e agitado e os Ministros infiéis e pecadores.
E, como ousei dizer isto a vocês no início do Sínodo, era necessário viver tudo isto com tranqüilidade, com paz interior, mesmo porque o Sínodo se desenvolve cum Petro et sub Petro, e a presença do Papa é garantia para todos.
Falemos um pouco do Papa, agora, na relação com os bispos (risos). Assim, a missão do Papa é a de garantir a unidade da Igreja; é o de recordar aos fiéis o seu dever em seguir fielmente o Evangelho de Cristo; é o de recordar aos pastores que o seu primeiro dever é o de nutrir o rebanho – nutrir o rebanho – que o Senhor confiou a eles e de buscar acolhê-lo – com paternidade e misericórdia e sem falso medo – as ovelhas perdidas. Errei aqui. Disse acolher: ir buscá-las.
A sua missão é a de recordar a todos que a autoridade na Igreja é serviço (Cf. Mc 9, 33-35) como explicou com clareza Papa Bento XVI, com palavras que cito textualmente: “A Igreja é chamada e se esforça em exercer este tipo de autoridade que é serviço, e o exerce não em nome próprio, mas em nome de Jesus Cristo... através ods Pastores da Igreja, de fato, Cristo apascenta o seu rebanho: é Ele que o guia, o protege, o corrige, porque o ama profundamente. Mas o Senhor Jesus, Pastor Supremo das nossas almas, quis que o Colégio Apostólico, hoje os Bispos, em comunhão com o sucessor de Pedro... participassem desta missão de cuidar do Povo de Deus, de serem educadores na fé, orientando, animando e apoiando a comunidade cristã, ou, como diz o Concílio, “cuidando, sobretudo que cada fiel seja guiado no Espírito Santo a viver segundo o Evangelho a própria vocação, a praticar uma caridade sincera e ativa e a exercitar aquela liberdade com que Cristo nos libertou “ (Presbyterorum Ordinis, 6) ... é através de nós – continua o Papa Bento – que o Senhor atinge as almas, as instrui, as protege, as guia. Santo Agostinho, no seu Comentário ao Evangelho de São João diz: “Seja, portanto, esforço de amor apascentar o rebanho do Senhor” (123,5); esta é a suprema norma de conduta dos ministros de Deus, um amor incondicional, como aquele do Bom Pastor, pleno de alegria, aberto a todos, atento aos próximos e atencioso aos distantes (cf. Santo Agostinho, Discurso 340; Discurso 46, 15), delicado para com os mais fracos, os pequenos, os simples, os pecadores, para manifestar a infinita misericórdia de Deus com as palavras encorajadoras da esperança”. (Bento XVI, Audiência Geral, Quarta-feira, 26 de maio de 2010). Fim da citação.
Portanto, a Igreja é de Cristo – é a sua esposa – e todos os bispos, em comunhão com o Sucessor de Pedro, têm a missão e o dever de custodiá-la e de servi-la, não como donos, mas como servidores. O Papa, neste contexto, não é o senhor supremo, mas sim um supremo servidor – o “servus servorum Dei”; o garante da obediência e da conformidade da Igreja à vontade de Deus, ao Evangelho de Cristo e à Tradição da Igreja, deixando de lado todo arbítrio pessoal, mesmo sendo – por vontade do próprio Cristo – o “Pastor e Doutor supremo de todos os fiéis” (Can. 749) enquanto gozando “da potestade ordinária que é suprema, é plena, imediata e universal na Igreja” (cf. Cann. 331-334).
Queridos irmãos e irmãs, agora temos ainda um ano para amadurecer, com verdadeiro discernimento espiritual, as idéias propostas e encontrar soluções concretas às tantas dificuldades e inumeráveis desafios que as famílias devem enfrentar; dar respostas aos tantos desencorajamentos que circundam e sufocam as famílias.
Um ano para trabalhar na “Relatio synodi” que é o resumo fiel e claro de tudo aquilo que foi dito e discutido nesta sala e nos círculos menores. E é apresentado às Conferências episcopais como “Lineamenta”.
Que o senhor nos acompanhe e nos guie neste caminho, pela gloria do seu nome, com a intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e de São José! E por favor, não esqueçam de rezar por mim! Obrigado.
(canto do Te Deum e bênção)
Muito obrigado e bom repouso agora, hein!


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