sexta-feira, 6 de junho de 2014

Evangelii Gaudium


87. Neste tempo em que as redes e demais instrumentos da comunicação humana alcançaram
progressos inauditos, sentimos o desafio de descobrir e transmitir a “mística” de viver juntos,
misturar-nos, encontrar-nos, dar o braço, apoiar-nos, participar nesta maré um pouco caótica
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que pode transformar-se numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caravana solidária,
numa peregrinação sagrada. Assim, as maiores possibilidades de comunicação traduzir-se-ão em
novas oportunidades de encontro e solidariedade entre todos. Como seria bom, salutar, libertador,
esperançoso, se pudéssemos trilhar este caminho! Sair de si mesmo para se unir aos outros
faz bem. Fechar-se em si mesmo é provar o veneno amargo da imanência, e a humanidade perderá
com cada opção egoísta que fizermos.
88. O ideal cristão convidará sempre a superar a suspeita, a desconfiança permanente, o medo de
sermos invadidos, as atitudes defensivas que nos impõe o mundo actual. Muitos tentam escapar
dos outros fechando-se na sua privacidade confortável ou no círculo reduzido dos mais íntimos, e
renunciam ao realismo da dimensão social do Evangelho. Porque, assim como alguns quiseram um
Cristo puramente espiritual, sem carne nem cruz, também se pretendem relações interpessoais
mediadas apenas por sofisticados aparatos, por ecrãs e sistemas que se podem acender e apagar à
vontade. Entretanto o Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do
outro, com a sua presença física que interpela, com o seu sofrimentos e suas reivindicações, com a
sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável
do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne
dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura.

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