quinta-feira, 5 de junho de 2014

Evangelii Gaudium


85. Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que
nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre. Ninguém pode
empreender uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo. Quem começa
sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos. Embora com a
dolorosa consciência das próprias fraquezas, há que seguir em frente, sem se dar por vencido, e
recordar o que disse o Senhor a São Paulo: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se
na fraqueza” (2 Cor 12, 9). O triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente,
estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal. O
mau espírito da derrota é irmão da tentação de separar prematuramente o trigo do joio, resultado
de uma desconfiança ansiosa e egocêntrica.
86. É verdade que, nalguns lugares, se produziu uma “desertificação” espiritual, fruto do projecto
de sociedades que querem construir sem Deus ou que destroem as suas raízes cristãs. Lá, “o
mundo cristão está a tornar-se estéril e se esgota como uma terra excessivamente desfrutada que
se transforma em poeira”. Noutros países, a resistência violenta ao cristianismo obriga os cristãos
a viverem a sua fé às escondidas no país que amam. Esta é outra forma muito triste de deserto.
E a própria família ou o lugar de trabalho podem ser também o tal ambiente árido, onde há que
conservar a fé e procurar irradiá-la. Mas “é precisamente a partir da experiência deste deserto,
deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós, homens
e mulheres. No deserto, é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim
sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda
que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E, no deserto, existe sobretudo a necessidade
de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida,
mantendo assim viva a esperança”. Em todo o caso, lá somos chamados a ser pessoas-cântaro
para dar de beber aos outros. Às vezes o cântaro transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente
na Cruz que o Senhor, trespassado, Se nos entregou como fonte de água viva. Não
deixemos que nos roubem a esperança!

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