65.
Isto deveria nos levar a contemplar os rostos daqueles que sofrem. Entre eles
estão as
comunidades
indígenas e afro-descendentes que, em muitas ocasiões, não são tratadas com
dignidade
e igualdade de condições; muitas mulheres são excluídas, em razão de seu sexo,
raça ou
situação
sócio-econômica; jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm
oportunidades
de progredir em seus estudos nem de entrar no mercado de trabalho para se
desenvolver
e constituir uma família; muitos pobres, desempregados, migrantes, deslocados,
agricultores
sem terra, aqueles que procuram sobreviver na economia informal; meninos e
meninas
submetidos
à prostituição infantil ligada muitas vezes ao turismo sexual; também as
crianças vítimas
do
aborto. Milhões de pessoas e famílias vivem na miséria e inclusive passam fome.
Preocupam-nos
também
os dependentes das drogas, as pessoas com limitações físicas, os portadores de
HIV e os
enfermos
de AIDS que sofrem a solidão e se vêem excluídos da convivência familiar e
social. Não nos
esqueçamos
também dos seqüestrados e aqueles que são vítimas da violência, do terrorismo,
de
conflitos
armados e da insegurança na cidade. Também os anciãos que, além de se sentirem
excluídos
do sistema produtivo, vêem-se muitas vezes recusados por sua família como
pessoas
incômodas
e inúteis. Sentimos as dores, enfim, da situação desumana em que vive a grande
maioria
dos
presos, que também necessitam de nossa presença solidária e de nossa ajuda
fraterna. Uma
globalização
sem solidariedade afeta negativamente os setores mais pobres. Já não se trata
simplesmente
do fenômeno da exploração e opressão, mas de algo novo: da exclusão social. Com
ela
o
pertencimento à sociedade na qual se vive fica afetado, pois já não se está
abaixo, na periferia ou
sem
poder, mas se está de fora. Os excluídos não são somente “explorados”, mas
“supérfluos” e
“descartáveis”.
66.
As instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto
de subordinar as
economias
locais, sobretudo, debilitando os Estados, que aparecem cada vez mais
impotentes para
levar
adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações, especialmente
quando se
trata
de investimentos de longo prazo e sem retorno imediato. As indústrias
extrativistas
internacionais
e a agroindústria muitas vezes não respeitam os direitos econômicos, sociais,
culturais
e
ambientais das populações locais e não assumem suas responsabilidades. Com
muita freqüência se
subordina
a destruição da natureza ao desenvolvimento econômico, com danos á
biodiversidade,
com
o esgotamento das reservas de água e de outros recursos naturais, com a
contaminação do ar e
a
mudança climática. Uma nova tendência com múltiplas implicações na região é a
crescente
produção
de agro combustíveis, que não deve ser feita a custa da necessária produção de
alimentos
para
a sobrevivência humana. A América Latina possui os aqüíferos mais abundantes do
planeta,
junto
com grandes extensões de território selvagem, que são pulmões da humanidade.
Assim se dão
gratuitamente
ao mundo serviços ambientais que não são reconhecidos economicamente. A região
se
vê afetada pelo aquecimento da terra e a mudança climática provocada
principalmente pelo estilo
de
vida não sustentável dos países industrializados.
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