sexta-feira, 20 de junho de 2014

DOCUMENTO DE APARECIDA CAPITULO 02 EM PARTES



65. Isto deveria nos levar a contemplar os rostos daqueles que sofrem. Entre eles estão as
comunidades indígenas e afro-descendentes que, em muitas ocasiões, não são tratadas com
dignidade e igualdade de condições; muitas mulheres são excluídas, em razão de seu sexo, raça ou
situação sócio-econômica; jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm
oportunidades de progredir em seus estudos nem de entrar no mercado de trabalho para se
desenvolver e constituir uma família; muitos pobres, desempregados, migrantes, deslocados,
agricultores sem terra, aqueles que procuram sobreviver na economia informal; meninos e meninas
submetidos à prostituição infantil ligada muitas vezes ao turismo sexual; também as crianças vítimas
do aborto. Milhões de pessoas e famílias vivem na miséria e inclusive passam fome. Preocupam-nos
também os dependentes das drogas, as pessoas com limitações físicas, os portadores de HIV e os
enfermos de AIDS que sofrem a solidão e se vêem excluídos da convivência familiar e social. Não nos
esqueçamos também dos seqüestrados e aqueles que são vítimas da violência, do terrorismo, de
conflitos armados e da insegurança na cidade. Também os anciãos que, além de se sentirem
excluídos do sistema produtivo, vêem-se muitas vezes recusados por sua família como pessoas
incômodas e inúteis. Sentimos as dores, enfim, da situação desumana em que vive a grande maioria
dos presos, que também necessitam de nossa presença solidária e de nossa ajuda fraterna. Uma
globalização sem solidariedade afeta negativamente os setores mais pobres. Já não se trata
simplesmente do fenômeno da exploração e opressão, mas de algo novo: da exclusão social. Com ela
o pertencimento à sociedade na qual se vive fica afetado, pois já não se está abaixo, na periferia ou
sem poder, mas se está de fora. Os excluídos não são somente “explorados”, mas “supérfluos” e
“descartáveis”.

66. As instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto de subordinar as
economias locais, sobretudo, debilitando os Estados, que aparecem cada vez mais impotentes para
levar adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações, especialmente quando se
trata de investimentos de longo prazo e sem retorno imediato. As indústrias extrativistas
internacionais e a agroindústria muitas vezes não respeitam os direitos econômicos, sociais, culturais
e ambientais das populações locais e não assumem suas responsabilidades. Com muita freqüência se
subordina a destruição da natureza ao desenvolvimento econômico, com danos á biodiversidade,
com o esgotamento das reservas de água e de outros recursos naturais, com a contaminação do ar e
a mudança climática. Uma nova tendência com múltiplas implicações na região é a crescente
produção de agro combustíveis, que não deve ser feita a custa da necessária produção de alimentos
para a sobrevivência humana. A América Latina possui os aqüíferos mais abundantes do planeta,
junto com grandes extensões de território selvagem, que são pulmões da humanidade. Assim se dão
gratuitamente ao mundo serviços ambientais que não são reconhecidos economicamente. A região
se vê afetada pelo aquecimento da terra e a mudança climática provocada principalmente pelo estilo

de vida não sustentável dos países industrializados.

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