quarta-feira, 11 de junho de 2014

DOCUMENTO DE APARECIDA CAPITULO 02 EM PARTES



43. Portanto, a realidade social que em sua dinâmica atual descrevemos com a palavra globalização,
antes que qualquer outra dimensão, impacta a realidade de nossa cultura e do modo como nos
inserimos e nos apropriamos dela. A variedade e a riqueza das culturas latino-americanas, desde
aquelas mais originárias até aquelas que com a passagem da história e a mestiçagem de seus povos
foram se sedimentando nas nações, nas famílias, nos grupos sociais, nas instituições educativas e na
convivência cívica, constitui um dado bastante evidente para nós o qual valorizamos como uma
singular riqueza. O que hoje em dia está em jogo não é a diversidade que os meios de comunicação
são capazes de individualizar e registrar. O que ninguém esquece é, pelo contrário, a possibilidade
de que esta diversidade possa convergir em uma síntese que, envolvendo a variedade do sentido,
seja capaz de projetá-la em um destino histórico comum. Nisto reside o valor incomparável do ânimo
mariano de nossa religiosidade popular que, sob distintos nomes, tem sido capaz de fundir as
histórias latino-americanas diversas em uma história compartilhada: aquela que conduz a Cristo,
Senhor da vida, em quem se realiza a mais alta dignidade de nossa vocação humana.

44. Vivemos uma mudança de época cujo nível mais profundo é o cultural. Dissolve-se a concepção
integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus; “aqui está precisamente o grande
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erro das tendências dominantes do último século... Que excluem Deus de seu horizonte, falsificam o
conceito da realidade e só podem terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas22.
Surge hoje com grande força uma sobrevalorização da subjetividade individual. Independentemente
de sua forma, a liberdade e a dignidade da pessoa são reconhecidas. Os fenômenos sociais,
econômicos e tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, ao que se concebe fixado
no próprio presente, trazendo concepções de inconsistência e instabilidade. Deixa-se de lado a
preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos, à
criação de novos e muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da

família, das enfermidades e da morte.

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