43.
Portanto, a realidade social que em sua dinâmica atual descrevemos com a
palavra globalização,
antes
que qualquer outra dimensão, impacta a realidade de nossa cultura e do modo
como nos
inserimos
e nos apropriamos dela. A variedade e a riqueza das culturas latino-americanas,
desde
aquelas
mais originárias até aquelas que com a passagem da história e a mestiçagem de
seus povos
foram
se sedimentando nas nações, nas famílias, nos grupos sociais, nas instituições
educativas e na
convivência
cívica, constitui um dado bastante evidente para nós o qual valorizamos como
uma
singular
riqueza. O que hoje em dia está em jogo não é a diversidade que os meios de
comunicação
são
capazes de individualizar e registrar. O que ninguém esquece é, pelo contrário,
a possibilidade
de
que esta diversidade possa convergir em uma síntese que, envolvendo a variedade
do sentido,
seja
capaz de projetá-la em um destino histórico comum. Nisto reside o valor
incomparável do ânimo
mariano
de nossa religiosidade popular que, sob distintos nomes, tem sido capaz de
fundir as
histórias
latino-americanas diversas em uma história compartilhada: aquela que conduz a
Cristo,
Senhor
da vida, em quem se realiza a mais alta dignidade de nossa vocação humana.
44.
Vivemos uma mudança de época cujo nível mais profundo é o cultural. Dissolve-se
a concepção
integral
do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus; “aqui está precisamente o
grande
14
erro
das tendências dominantes do último século... Que excluem Deus de seu
horizonte, falsificam o
conceito
da realidade e só podem terminar em caminhos equivocados e com receitas
destrutivas22.
Surge
hoje com grande força uma sobrevalorização da subjetividade individual.
Independentemente
de
sua forma, a liberdade e a dignidade da pessoa são reconhecidas. Os fenômenos
sociais,
econômicos
e tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, ao que se concebe
fixado
no
próprio presente, trazendo concepções de inconsistência e instabilidade.
Deixa-se de lado a
preocupação
pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos,
à
criação
de novos e muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da
sexualidade, da
família,
das enfermidades e da morte.
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