quinta-feira, 8 de maio de 2014

EVANGELLI GAUDIUM

«Primeirear”, envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar

24. A Igreja “em saída” é a comunidade de discípulos missionários que “primeireiam”, que se
envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo
–, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa,
precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem
medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar
os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado
a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa!
Como consequência, a Igreja sabe “envolver-se”. Jesus lavou os pés aos seus discípulos. O
Senhor envolve-Se e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas,
logo a seguir, diz aos discípulos: “Sereis felizes se o puserdes em prática” (Jo 13, 17). Com obras e
gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixase
– se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de
Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o “cheiro de ovelha”, e estas escutam a sua
voz. Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a “acompanhar”. Acompanha a humanidade
em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas
esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a
considerar as limitações. Fiel ao dom do Senhor, sabe também “frutificar”. A comunidade evangelizadora
mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não
perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem
reacções lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne
numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos
ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho
de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja
acolhida e manifeste a sua força libertadora e renovadora. Por fim, a comunidade evangelizadora
jubilosa sabe sempre “festejar”: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente
na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa
torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que
é também celebração da actividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar.

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