segunda-feira, 5 de maio de 2014

EVANGELLI GAUDIUM

3. A nova evangelização para a transmissão da fé

14. À escuta do Espírito, que nos ajuda a reconhecer comunitariamente os sinais dos tempos, celebrou-
se de 7 a 28 de Outubro de 2012 a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos,
sobre o tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Lá foi recordado que a nova
evangelização interpela a todos, realizando-se fundamentalmente em três âmbitos. Em primeiro
lugar, mencionamos o âmbito da pastoral ordinária, “animada pelo fogo do Espírito a fim de
incendiar os corações dos fiéis que frequentam regularmente a comunidade, reunindo-se no dia
do Senhor, para se alimentarem da sua Palavra e do Pão de vida eterna”. Devem ser incluídos
também neste âmbito os fiéis que conservam uma fé católica intensa e sincera, exprimindo-a de
diversos modos, embora não participem frequentemente no culto. Esta pastoral está orientada
para o crescimento dos crentes, a fim de corresponderem cada vez melhor e com toda a sua vida
ao amor de Deus.
Em segundo lugar, lembramos o âmbito das “pessoas baptizadas que, porém, não vivem as
exigências do Baptismo”, não sentem uma pertença cordial à Igreja e já não experimentam a
consolação da fé. Mãe sempre solícita, a Igreja esforça-se para que elas vivam uma conversão
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que lhes restitua a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho.
Por fim, frisamos que a evangelização está essencialmente relacionada com a proclamação do
Evangelho àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram. Muitos deles
buscam secretamente a Deus, movidos pela nostalgia do seu rosto, mesmo em países de antiga
tradição cristã. Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar,
sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha
uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce
por proselitismo, mas “por atracção”.
15. João Paulo II convidou-nos a reconhecer que “não se pode perder a tensão para o anúncio”
àqueles que estão longe de Cristo, “porque esta é a tarefa primária da Igreja”. A actividade missionária
“ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja” e “a causa missionária deve ser (…) a
primeira de todas as causas”. Que sucederia se tomássemos realmente a sério estas palavras?
Simplesmente reconheceríamos que a acção missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja.
Nesta linha, os Bispos latino-americanos afirmaram que “não podemos ficar tranquilos, em espera
passiva, em nossos templos”, sendo necessário passar “de uma pastoral de mera conservação
para uma pastoral decididamente missionária». Esta tarefa continua a ser a fonte das maiores
alegrias para a Igreja: «Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que
por noventa e nove justos que não necessitam de conversão» (Lc 15, 7).
A proposta desta Exortação e seus contornos
16. Com prazer, aceitei o convite dos Padres sinodais para redigir esta Exortação. Para o efeito,
recolho a riqueza dos trabalhos do Sínodo; consultei também várias pessoas e pretendo, além
disso, exprimir as preocupações que me movem neste momento concreto da obra evangelizadora
da Igreja. Os temas relacionados com a evangelização no mundo actual, que se poderiam
desenvolver aqui, são inumeráveis. Mas renunciei a tratar detalhadamente esta multiplicidade de
questões que devem ser objecto de estudo e aprofundamento cuidadoso. Penso, aliás, que não
se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões
que dizem respeito à Igreja e ao mundo. Não convém que o Papa substitua os episcopados locais
no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido,
sinto a necessidade de proceder a uma salutar “descentralização”.
17. Aqui escolhi propor algumas directrizes que possam encorajar e orientar, em toda a Igreja,
uma nova etapa evangelizadora, cheia de ardor e dinamismo. Neste quadro e com base na doutrina
da Constituição dogmática Lumen gentium, decidi, entre outros temas, de me deter amplamente
sobre as seguintes questões:
a) A reforma da Igreja em saída missionária.
b) As tentações dos agentes pastorais.
c) A Igreja vista como a totalidade do povo de Deus que evangeliza.
d) A homilia e a sua preparação.
e) A inclusão social dos pobres.
f) A paz e o diálogo social.
g) As motivações espirituais para o compromisso missionário.
18. Demorei-me nestes temas, desenvolvendo-os dum modo que talvez possa parecer excessivo.
Mas não o fiz com a intenção de oferecer um tratado, mas só para mostrar a relevante incidência
prática destes assuntos na missão actual da Igreja. De facto, todos eles ajudam a delinear um preciso
estilo evangelizador, que convido a assumir em qualquer actividade que se realize. E, desta
forma, podemos assumir, no meio do nosso trabalho diário, esta exortação da Palavra de Deus:
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“Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo vos digo: alegrai-vos!” (Fl 4, 4).

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