quinta-feira, 29 de maio de 2014

Evangelii Gaudium

70. Certo é também que, às vezes, se dá maior realce a formas exteriores das tradições de grupos
concretos ou a supostas revelações privadas, que se absolutizam, do que ao impulso da piedade
cristã. Há certo cristianismo feito de devoções – próprio duma vivência individual e sentimental
da fé – que, na realidade, não corresponde a uma autêntica “piedade popular”. Alguns promovem
estas expressões sem se preocupar com a promoção social e a formação dos fiéis, fazendo-o
nalguns casos para obter benefícios económicos ou algum poder sobre os outros. Também não
podemos ignorar que, nas últimas décadas, se produziu uma ruptura na transmissão geracional
da fé cristã no povo católico. É inegável que muitos se sentem desiludidos e deixam de se identificar
com a tradição católica, que cresceu o número de pais que não baptizam os seus filhos nem
os ensinam a rezar, e que há um certo êxodo para outras comunidades de fé. Algumas causas
desta ruptura são a falta de espaços de diálogo familiar, a influência dos meios de comunicação, o
subjectivismo relativista, o consumismo desenfreado que o mercado incentiva, a falta de cuidado
pastoral pelos mais pobres, a inexistência dum acolhimento cordial nas nossas instituições, e a
dificuldade que sentimos em recriar a adesão mística da fé num cenário religioso pluralista.

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