quinta-feira, 22 de maio de 2014

Evangelii Gaudium

Não a um dinheiro que governa em vez de servir

57. Por detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. Para a ética,
olha-se habitualmente com um certo desprezo sarcástico; é considerada contraproducente, demasiado
humana, porque relativiza o dinheiro e o poder. É sentida como uma ameaça, porque
condena a manipulação e degradação da pessoa. Em última instância, a ética leva a Deus que
espera uma resposta comprometida que está fora das categorias do mercado. Para estas, se absolutizadas,
Deus é incontrolável, não manipulável e até mesmo perigoso, na medida em que
chama o ser humano à sua plena realização e à independência de qualquer tipo de escravidão. A
ética – uma ética não ideologizada – permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humana.
Neste sentido, animo os peritos financeiros e os governantes dos vários países a considerarem
as palavras dum sábio da antiguidade: “Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é
roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos”.
58. Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes
por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação
e clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O dinheiro deve
servir, e não governar! O Papa ama a todos, ricos e pobres, mas tem a obrigação, em nome de
Cristo, de lembrar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Exorto-vos a
uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia
ao ser humano.

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