quarta-feira, 21 de maio de 2014

Evangelii Gaudium

Não à nova idolatria do dinheiro

55. Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos
pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos
faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da
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primazia do ser humano. Criámos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32,
1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia
sem rosto e sem um objectivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que investe as finanças
e a economia, põe a descoberto os seus próprios desequilíbrios e sobretudo a grave carência
duma orientação antropológica que reduz o ser humano apenas a uma das suas necessidades: o
consumo.
56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez
mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem
a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de
controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova
tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas
regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da
sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção
ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição
do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a fagocitar tudo para aumentar
os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos
interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.

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