segunda-feira, 19 de maio de 2014

Evangelii Gaudium

Capítulo II

NA CRISE DO COMPROMISSO COMUNITÁRIO

50. Antes de falar de algumas questões fundamentais relativas à acção evangelizadora, convém
recordar brevemente o contexto em que temos de viver e agir. É habitual hoje falar-se dum “excesso
de diagnóstico”, que nem sempre é acompanhado por propostas resolutivas e realmente
aplicáveis. Por outro lado, também não nos seria de grande proveito um olhar puramente sociológico,
que tivesse a pretensão, com a sua metodologia, de abraçar toda a realidade de maneira
supostamente neutra e asséptica. O que quero oferecer situa-se mais na linha dum discernimento
evangélico. É o olhar do discípulo missionário que “se nutre da luz e da força do Espírito Santo”.
51. Não é função do Papa oferecer uma análise detalhada e completa da realidade contemporânea,
mas animo todas as comunidades a “uma capacidade sempre vigilante de estudar os sinais
dos tempos”. Trata-se duma responsabilidade grave, pois algumas realidades hodiernas, se não
encontrarem boas soluções, podem desencadear processos de desumanização tais que será difícil
depois retroceder. É preciso esclarecer o que pode ser um fruto do Reino e também o que
atenta contra o projecto de Deus. Isto implica não só reconhecer e interpretar as moções do
espírito bom e do espírito mau, mas também – e aqui está o ponto decisivo – escolher as do
espírito bom e rejeitar as do espírito mau. Pressuponho as várias análises que ofereceram os outros
documentos do Magistério universal, bem como as propostas pelos episcopados regionais
e nacionais. Nesta Exortação, pretendo debruçar-me, brevemente e numa perspectiva pastoral,
apenas sobre alguns aspectos da realidade que podem deter ou enfraquecer os dinamismos de
renovação missionária da Igreja, seja porque afectam a vida e a dignidade do povo de Deus, seja
porque incidem sobre os sujeitos que mais directamente participam nas instituições eclesiais e
nas tarefas de evangelização.

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