segunda-feira, 12 de maio de 2014

Evangelii Gaudium

31. O Bispo deve favorecer sempre a comunhão missionária na sua Igreja diocesana, seguindo o
ideal das primeiras comunidades cristãs, em que os crentes tinham um só coração e uma só alma
(cf. Act 4, 32) . Para isso, às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança
do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade
simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar
aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfacto para encontrar
novas estradas. Na sua missão de promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária, deverá
estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código
de Direito Canónico e de outras formas de diálogo pastoral, com o desejo de ouvir a todos, e
não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo. Mas o objectivo destes processos participativos
não há-de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos.
32. Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão
do papado. Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes
a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo
pretendeu dar-lhe e às necessidades actuais da evangelização. O Papa João Paulo II pediu que o
ajudassem a encontrar “uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum
ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova”. Pouco temos avançado neste sentido.
Também o papado e as estruturas centrais da Igreja universal precisam de ouvir este apelo
a uma conversão pastoral. O Concílio Vaticano II afirmou que, à semelhança das antigas Igrejas
patriarcais, as conferências episcopais podem “aportar uma contribuição múltipla e fecunda, para
que o sentimento colegial leve a aplicações concretas”. Mas este desejo não se realizou plenamente,
porque ainda não foi suficientemente explicitado um estatuto das conferências episcopais
que as considere como sujeitos de atribuições concretas, incluindo alguma autêntica autoridade
doutrinal. Uma centralização excessiva, em vez de ajudar, complica a vida da Igreja e a sua dinâmica
missionária.
33. A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cómodo critério pastoral: “fez-se
sempre assim”. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objectivos,
as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades. Uma identificação
dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada
a traduzir-se em mera fantasia. A todos exorto a aplicarem, com generosidade e coragem,
as orientações deste documento, sem impedimentos nem receios. Importante é não caminhar
sozinho, mas ter sempre em conta os irmãos e, de modo especial, a guia dos Bispos, num discernimento
pastoral sábio e realista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário